Caros amigos, ao escrevermos nos expomos, para leitores anônimos ou não. A interação e receptividade são produtivas, pois apesar de algumas considerações serem negativas, continuam interessantes e também revelam nosso público carente por ações imediatas, talvez. É a natureza humana. Também somos instados a discorrer para aliviar o peso de nossos compromissos, as atribulações diárias , manifestar e compartilhar nossas convicções e ideais.
É uma forma de difundirmos informações, cultura e opiniões. Remonta a Idade Média a reprodução oral de histórias, contos e cantos. Consolida-se com o invento de Guttemberg: a máquina de tipos; e hoje temos a Internet. Acrescente-se a isso o fato do ser humano ser na essência uma criatura sociável, de fino ou de rústico trato. Muitas vezes devemos ter o cuidado ao afirmar algo como dizia o poeta Irlandes W.B. Yeats "pise suavemente, porque você está pisando nos meus sonhos".
Assim como este espaço destina-se a comentários sobre notícias que repercutem em nossas vidas profissionais e pessoais no tocante a políticas públicas com cautela reproduziremos mais idéias acerca do tema proposto. Parece-me oportuno analisar um fenômeno presente no primeiro dia de aula. Ocorreu quando uma acadêmica, isto é, uma estudante universitária, disse, inocentemente que a Igreja interferia na elaboração das normas. Por detrás desta observação está o cerne deste texto.
Não preciso dizer que a aluna foi repudiada pelo professor, execrada diante de uma platéia heterogênea e incipiente. O mestre, com estudos realizados em Parma, na Itália, ratificou o equívoco. Com veemência disse só ser possível na Idade Média, em que o clero detinha os manuscritos científicos e de nosso Estado ser laico, etç... O lente apenas esqueceu-se de mencionar aspectos como a cultura e formação social.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda aborda e sintetiza nossa formação cultural marcadamente em obras como Raízes do Brasil e Visão do Paraíso. Na primeira mostra comparativamente a façanha da colonização aqui e na América em geral, características no modo de explorar a lavoura, técnicas, arquiteturas. Enquanto a segunda narrativa explica a visão do Éden presente, e os mitos criados e difundidos em culturas opostas e ao mesmo tempo tão próximas.
Esse preâmbulo alude à Igreja e sua influência em nossa cultura, com ênfase na formação de opinião. Refiro-me sem distinção, de modo ecumênico, analisando a influência na política e a ascensão de parlamentares voltados e eleitos nitidamente pelo seu público atrelado à visibilidade alcançada, friso o respeito sacramentado nas urnas, afinal nós os elegemos. Nesta semana estará sendo gravado o primeiro programa do ano do jornalista e escritor Jô Soares e o convidado é o Jurista Ives Gandra Martins, o advogado da CNBB na questão células-tronco será oportuno o tema.
Outra questão premente, é o fenômeno da militarização da política. O Estado bélico. Dizem que o Poder Judiciário sofre com a politização. Enquanto isso presenciamos, na Administração Pública, militares saindo do quartel e assumindo postos estratégicos, talvez fossem mais apropriados à gestores de políticas públicas. Enfim tratam-se de questões alardeadas pela Imprensa. Parafraseando aquela frase de domínio público: “lugar de militar não seria no quartel, promovendo a defesa da soberania nacional”?
Como num jogo de xadrez nós assistimos passivos ou não ao movimento das peças no tabuleiro. Lances arquitetados com maestria, estratagemas articuladas, planejamento e perspicácia. Com ares de legalidade e talvez ausente a fumaça do bom direito.
No filme “Operação Walkiria” é mostrado além da obra de Wagner, a legitimação das atrocidades perpetradas e a tentativa legitima do 15º e último golpe contra o nazismo premeditado interna corporis. Temos a lei servindo a interesses escusos e o bem comum sendo vilipendiado naquele regime de exceção.
Precisamos, citando a peça, de "novas diretrizes em tempos de paz". Afinal estamos no Estado Democrático de Direito.
Publicado no Blog "Os Municipais" em 13 de março de 2010.